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O polícia é um tipo alto e encorpado, moreno, com um sorriso
capaz de derreter qualquer mulher. É minhoto, e mantém o sotaque com muito
orgulho. Trabalha na esquadra do Bairro Alto há vários anos, e de há uns meses
para cá tem trabalhado à paisana. “Mas
toda a gente sabe quem vocês são”, digo eu, a meter-me com ele. “Não sei se
serve de muito andarem por aí a fingir que são civis”. Ele ri-se. “A nossa
missão também passa pela prevenção”.
É uma esquadra onde
não há muito tempo morto. Drogas, furtos e rixas são o prato do dia, especialmente
ao fim-de-semana. Penso nos seus parcos ordenados.
“Admiro o que vocês fazem, por tão pouco. Deve ser preciso
gostar muito.”
“Há polícias que o são pelos benefícios. Por ser uma
segurança, por ser um ordenado certo. Mas nesta esquadra gostamos mesmo do que
fazemos, e há um grande espírito de camaradagem.”
A prova disso foi a
baixa que 35 polícias dessa esquadra puseram no dia 14 de Julho, como forma de
protesto a uma condenação de dois colegas, por alegada agressão a um estudante
alemão. Toda a esquadra manifestou a sua solidariedade – e antes que hajam
comentários/emails a reclamar que baixa não é protesto, a verdade é que a PSP,
ao contrário de todas as outras classes de funcionários públicos, não pode
manifestar-se ou fazer greve, e sim, esse dia de baixa tem o devido desconto no
ordenado.
É sexta-feira e estamos
num bar espaçoso, na Rua da Barroca, decorado em tons de castanho, onde há um
espaço com mesas e bancos e uma pista de dança. Está a dar uma música de Michael Teló e há dezenas de pessoas a dançar, animadas. “O que
é que andam aqui a fazer? Não se passa nada”. O local está cheio de
paisanas, e também já passaram por aqui alguns polícias fardados. Nos últimos meses,
é frequente vê-los por ali. “Têm havido pequenos furtos.” Bebe-se um shot de Jack
Daniel’s. “O que prova que nem toda a gente sabe quem somos”, remata.
Na verdade, estou mal
informada. Uma pesquisa rápida no Google traz-me a notícia de uma agressão a quatro polícias de folga, por nove homens,
naquele mesmo bar, em Janeiro.
Não é raro ver estes
anjos da guarda pelos bares, quando não estão a trabalhar. É comum vê-los a
dançar, beber copos ou ouvir um fado, um pouco por todo o bairro. Gostam do que fazem, mas têm também um amor muito especial à comunidade em que se inserem.
Sendo ele amigo de muitos
trabalhadores e comerciantes da zona, perguntei-lhe se alguma vez teve que
deter alguém de quem gostasse, ou se alguma vez deixou de o fazer. “Apenas uma
vez”, afirmou. “O porteiro de um bar, que é quase como um pai para mim.
Envolveu-se numa rixa com alguém que estava a causar distúrbios. Acabei por não
os deter.”