quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Engatatão

 Chega com andar gingão e cigarro ao canto da boca. Antes de ligar a guitarra ao amplificador, cumprimenta a malta do bar e bebe uma imperial ao balcão. Tira o casaco, exibe-se na sua t-shirt de manga cava.

 Senta-se num banco alto e afina a guitarra. Dá mais uns goles na imperial e começa a tocar. É nesse momento que olha à volta, à procura de formas femininas. Sabe que os olhos verdes, o cabelo de caracóis rebeldes, o ar de puto reguila e a voz rouca não deixam ninguém indiferente. Sabe que faz as mulheres sonhar, independentemente de estar a tocar Amy Winehouse ou Doors, Nirvana ou Natalie Imbruglia. Encara qualquer mulher bonita que esteja a olhar na sua direcção, gosta de vê-la render-se à sua voz, ao seu encanto, ver as emoções fervilhar à flor da pele.

 Nos intervalos, enquanto bebe mais uma imperial e fuma o seu cigarro, diverte-se a dar conversa ao enxame que se junta à sua volta. Faz o seu papel de galã: diz-lhes piadas ao ouvido, toca-lhes na mão ao de leve.

 Ao fim da noite, se alguma lhe interessa muito, leva-a a beber mais uma imperial a qualquer lado, e eventualmente acaba a noite em casa dela – ou num quarto de hotel, gosta das estrangeiras, que uma mulher de férias só quer passar bons momentos. Mas a maioria das vezes, mesmo depois de vários beijos anónimos, volta sozinho para o seu quarto alugado. Sabe que não é entre as paredes do bar onde trabalha que vai encontrar uma mulher que queira levar para casa.

 Adormece, meio entorpecido pelo álcool, ao som de Smells Like Teen Spirit.

Sem comentários: