quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A estrela rock falhada

 Aos 34 anos, tem um ar gasto e cansado. À volta dos olhos surgiram rugas, deixou o cabelo crescer e está mais magro que nunca. Há quem diga que se meteu nas drogas pesadas, coisa que ele nega veemente: as minhas drogas são estas, diz mostrando o copo de imperial e o charro que tem nas mãos. Já pouco conserva do miúdo fresco que ganhou um concurso para cantores na televisão há cerca de dez anos atrás e fazia suspirar as adolescentes (e as mães destas). A voz, essa, tornou-se ainda mais rouca, ainda mais funda. Os olhos azuis ostentam uma expressão de animal selvagem, ferido mas orgulhoso. Sabe do seu valor, não baixa a cabeça perante nada. Tudo na sua pose destila confiança – seja a dirigir-se a uma desconhecida, a fazer rir um grupo de pessoas ou a tocar no banco alto de um bar ou de um palco – mas é notória a desilusão na sua voz e nos seus olhos, ao falar de como este país maltrata os músicos.

 Ele, que começou por tocar nas ruas escuras da sua cidade natal, teve a falsa sensação de vitória depois do concurso – entrou em projectos de sucesso mas de curta duração, outros que foram completamente ignorados pelo público e pelos media. Agora lança-se num novo projecto, e ainda que o ar desiludido e assombrado lhe confira um certo charme, a saudade do seu entusiasmo e esperança inicial deixa-me com um gosto agridoce na boca.

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